Nelo Kayakmaran

Finalmente foi concluída com sucesso a fase mais trabalhosa deste projecto Kayakmaran. O Nelo Factor 3 em carbono que já cá estava à um ano, sofreu duas ligeiras alterações no casco, onde foram inseridas as duas peças de fixação dos tubos de união dos kayaks, pintura das mesmas e do casco envolvente. O Nelo USA de fibra deu muito mais trabalho, pois o seu estado era miserável, houve até quem me dissesse que devia deitá-lo fora e que não acreditava na sua recuperação. Este era o estado inicial:
Nem mostro mais fotos, para que não se assustem ainda mais, mas realmente o seu estado era péssimo e até eu em determinada altura duvidei que fizesse algo de jeito daquilo. Mas não desisti e fui trabalhando com o objectivo de ter o meu kayakmaran. Comecei por arrancar toda a fibra que lhe colaram para tapar os buracos (e grandes crateras ficaram a descoberto), depois lixei todo o casco e iniciei a tapagem de buracos e crateras. Utilizei três tipos de fibra de vidro, a mais usual com a malha e a fibra líquida/secante, a fibra em pasta e por fim massa de fibra. Muito pó branco cobriu todo o meu estaleiro, mas todos os buracos e crateras ficaram tapados e lisos. Como todos os kayaks de competição, este também não possuía divisórias estanques, então lá fiz o molde e a peça em fibra, fixando-a depois no casco (atrás do local do banco) com malha e fibra líquida. Estava criado o poço estanque e o compartimento de carga de popa. Na proa optei por colocar um insuflável. Poupado como sou, lá utilizei uma almofada de um colchão de praia. Este K1 numa utilização individual também nunca mais irá ao fundo e como kayakmaran ir ao fundo é coisa praticamente impossível de acontecer. No casco da popa marquei o local da tampa de carga e toca de recortar a fibra e fazer os buracos dos parafusos. O bocado de fibra daí retirado deu para tapar o bocado que lhe faltava na popa do casco, como mostra a foto de cima. A gola do poço estava toda partida aos bocados e impossível de aproveitar, optei por cortá-la toda fora, depois pensaria como fazer uma nova ou caso não conseguisse fazê-la ficava sem gola para o saiote, aquela é que não podia lá ficar. Como também gostaria de ter uns elástico no casco, fiz 6 peças em fibra para passagem de elásticos, duas na proa para pôr elástico e passar o Leash do remo (assim não perdemos os remos) e quatro atrás para pôr elásticos para levar carga.
Esta opção deu mais trabalho, pois coloquei no meio da fibra um tubo de plástico, para evitar o desgaste da fibra. Devido à dificuldade de arranjar as peças de plástico e de não gostar da ideia de ter mais furos no kayak, pus a cabeça a funcionar e arranjei esta solução, que foi mais trabalhosa mas que fica muito bem enquadrada no casco. Como o leme do Nelo Factor 3 é pequeno e poderia não ter capacidade para manobrar o kayakmaran, optei por furar o USA (que não trazia leme) e colocar-lhe um tubo para no futuro poder levar um leme de mar grande, o qual ficou tapado com uma tampa de plástico. Foi um trabalho que agora sei que foi desnecessário, mas já lá está e um dia poderei sempre utilizá-lo e colocar também neste kayak um leme. Como é lógico nesta história de kayakmaran somente um kayak deve ter o leme a trabalhar, pois se houvessem dois lemes dentro de água e os kayakistas entrassem em conflito e cada um quisesse ir para seu lado era complicado de navegar a coisa. Assim somente um manda na direcção e já não há discussão. Como o Nelo USA não trazia banco (e mesmo que trouxesse o banco de competição, este seria para tirar), fiz uma base direita para colocar o futuro banco. Esta base tem uma trave a meio por baixo para apoio no fundo do kayak e apoia também nas paredes laterais do casco. Esta base era para ser feita em fibra de vidro, mas depois optei por fazê-la naquele vidro em plástico inquebrável, pois tinha algum cá por casa.
Foi também nesse material que fiz a quilha e o estabilizador da popa, que tem três ferros embutidos no casco e na quilha, tendo a mesma sido colada com araldite e com reforço lateral em fibra de vidro. A quilha e o estabilizador passaram a fazer parte do casco e tal é a sua fixação que muito dificilmente dali sairão (as pancadas que vão dar no fundo de vez em quando vão comprova-lo). Quanto ao banco a opção foi igual ao que já tinha feito no Nelo Factor 3, uma capa auto em pele transformada e cozida á medida do poço, que já se tinha comprovado ser muito eficaz e confortável. O banco fica preso á base do fundo por uma cinta com peças de encaixe em plástico nas pontas, assim não cai quando vai invertido em cima do carro e facilmente se tira se for preciso limpar. Um banco tipo sit-on-top custa 40€ e este banco ficou em 7,50€. Vivemos em tempos de crise e temos que ser poupadinhos e idiotas. O bote também não trazia poisa pés (trazia somente os apoios de fixação para o mesmo), lá tive que fazer um em madeira marítima com os respectivos parafusos de fixação que pintei de preto para se enquadrar com todo o interior, pois todo o interior foi também pintado de preto. Ainda no interior superior do casco, coloquei quatro travessas em fibra, para reforçar o casco nas zonas onde depois fiz as peças que suportariam os tubos de ligação dos dois kayaks entre si. Fiz uma peça destas á proa e outra á popa (bem como outras duas no Factor 3). No centro existe um tubo de alumínio e a envolvê-lo é tudo em fibra, que fica fixa no casco dando uma excelente rigidez. No topo de uma das pontas da peça foi colocado um tubo em plástico, onde depois encaixa um pequeno ferro (que optei por serem uns rebites inteiros) para manter os tubos de ligação fixos e os kayaks não se separarem.
Ao retirar estes rebites, podemos retirar os tubos de ligação e temos sempre dois kayaks para uso individual (para quem se conseguir aguentar dentro deles). Os tubos de ligação são em alumínio e estão envolvidos com manga retráctil. Nos topos dos tubos foram colocados borrachas. Quando os tubos estão encaixados, nem se vê o alumínio. Depois de várias pesquisas na net de como fazer a fixação dos dois kayaks, tive como primeira opção copiar e fazer umas peças que vi num site australiano, mas essas peças eram para ser utilizados em kayaks de mar que têm um casco mais largo e portanto davam mais apoio e travamento, mas com os k1 de competição achei que tal não resultaria devia á pequena largura do casco á proa e inventei este sistema, que já confirmei ser o ideal e perfeito, pois os kayaks não têm oscilação a navegar, mantendo-se como se de uma peça única se tratasse. Por outro lado tinha que ter um sistema que permitisse separar os kayaks, quer para permitir uma utilização individual dos mesmos, quer para os poder transportar, pois quando estão unidos excedem em muito a largura de um carro e eu não quero comprar mais painéis P1, pois já me chega aquela coisa aberrante a que chamam P2. No estremo da proa e da popa foram feitos dois furos de lado a lado no casco, onde depois colei um tubo de plástico por dentro dos furos, para poder passar um cordão/pega que serve para amarração da proa e da popa ao carro para o transporte do mesmo e também para o transporte dos kayaks por duas pessoas. Para o final deixei uma das operações mais delicadas, a gola para colocação do saiote. Como iria fazer aquela coisa sem molde? Depois de muito pensar e de analisar vários materiais, resolvi fazer em fibra de vidro. Coloquei barro a toda a volta do poço, para nivelar o estremo da gola, deixei o barro secar um bocado, sem ser completamente (senão teria que andar á martelada para o tirar) e coloquei a tal malha e fibra de vidro líquida a várias camadas. Safei-me bem, não ficou liso como de origem (pois fazer com moldes é outra coisa), mas tenho ali uma gola resistente e funcional, que superou em muito aquilo que eu tinha pensado que sairia. Depois de mais retoque aqui e outro acolá, passei á pintura, que foi feita da mesma cor que já tinha o parceiro Nelo Factor 3, em preto e amarelo para que o nome de baptismo inicial continuasse a linhagem. Após as pinturas foram colocados os elásticos e a tampa de carga, que levou silicone e respectivos parafusos/anilhas/porcas. Por fim coloquei uma borracha autocolante na união dos cascos superior/inferior, que já tinha sido reforçada a fibra. Foi assim que ficou depois de pronto, nem parece que é o das fotos de cima:
Julgo que mencionei as operações mais importantes, poderá haver um ou outro pormenor que me esteja a esquecer, mas também não quero maçar mais, pois longo já vai este texto, mas acreditem que muito mais longo foi a trabalheira que tive para chegar a esta parte. É que ainda faltam mais duas coisas para o Kayakmaran estar completo, uma será a colocação de uma rede ou plataforma rígida entre os kayaks para levar carga ou deitarmo-nos ao sol e a outra será a vela de grande dimensão que irei pôr no bicho. A peça para a base do tubo da vela já está a ser trabalhada e o resto a seu tempo ficará feito. E será que depois de tanto trabalho a coisa resulta ou isto foi trabalho para aquecer? Esta coisa do Kayakmaran valerá a pena? Vejam vocês mesmo o resultado.
Pois bem, a prova de mar (ou antes a prova em barragem) foi feita no dia 13 de Junho com a MindWater e ambos ficámos muito satisfeitos e felizes com o resultado final. Todos os objectivos iniciais foram cumpridos e as expectativas foram superadas. O conjunto navega sólido e sem ter oscilações, vamos muito confortáveis, é uma embarcação muito rápida (mais rápida do que o nosso Nelo Berlengas), o esforço a remar embora diferente do pagaiar pareceu-nos menor, a estabilidade dá para fazer quase tudo (literalmente dá para nos amandarmos lá para dentro e irmos aos poços de carga buscar o que necessitarmos, mesmo em andamento), vamos lado a lado um com o outro, o que permite ir numa conversa olhos nos olhos e até dá para namorar (mais só com a base a meio), permitindo ainda ser navegado apenas e só por um desde que este vá no kayak que tem o leme. A capacidade de manobra é mais reduzida do que num K2 tradicional, pois o conjunto demora mais a fazer por exemplo uma inversão (o que é normal tendo em conta a largura do conjunto), mas tal também se deve a estarmos a utilizar um pequenito leme de competição, mas que chega para termos uma manobralidade suficiente, servindo para compensar diferenças na remada e manter a rota traçada. Chega para fazer com segurança as atracagens e para nos desviarmos muito bem daqueles obstáculos visíveis. Tem a desvantagem de termos que transportar dois kayaks (e respectivas amarrações) em vez de um único K2, mas por outro lado cumpre as dimensões de transporte para a maioria dos carros, coisa que na maior parte dos k2 não acontece. Por outro lado concretizei com sucesso o objectivo da kayakadaÓpancada deste ano e de termos um embarcação diferente e talvez até única por estes lados. Como se costuma dizer cada maluco a sua pancada. Agora se já estamos satisfeitos com a rapidez do kayakmaran imaginem quando ele tiver uma vela triangular entre os 2.50 a 3 metros, o que a coisa vai andar e nós pouco remar.Depois de concluir por completo o kayakmaran, ainda terei que pegar no Sipre USA e trabalhar um pouco mais para o poder chamar de kayak (embora esteja muito melhor do que estava o Nelo USA), mas com a experiência e conhecimentos adquiridos já não será muito difícil de pô-lo a navegar. Mas depois disto também vos digo que não reparo mais nenhum, a única possibilidade que ainda deixo em aberto é de fazer um kayak em madeira (lá para a minha reforma). Apesar deste longo trabalho, as idas para águas também têm acontecido, mas essas descreverei noutro texto. Se este K2 vos agradar e caso desejem fazer também um (há malucos para tudo), podem dispor da minha ajuda. Mais fotos em http://picasaweb.google.com/soulwateri . Aproveitem bem a Vida e Boas Pagaiadas.

1 comentário:

JGON disse...

Um belo projecto sim senhor. Do velho se fez novo e Diferente. Apesar de não perceber praticamente nada de Kayaks(tenho curiosidade),adorei ler a crónica desta "empreitada". Acho espatacular quando alguém deita mãos à obra para dar corpo a uma ideia e ainda melhor quando a partilha. Tive conhecimento no forum dos Amigos da Pagaia e vou procurar estar atento aos novos desenvolvimentos como sejam a colocação da vela e futuras avaliações. Parabéns!!