Passeio de Alentejanos ao Alqueva

É verdade sim senhor, os alentejanos saíram dos seus montes típicos, vindos de várias zonas alentejanas, para se juntarem no oceano bem plantado no interior deste profundo Alentejo. Foi a setembro, a dia 22, decorria o bendito ano de 2007 e eles lá partiram de Santiago do Cacém (Soulwater e RuiAlturas), de Estremoz (Matos) e de Reguengos de Monsaraz (Farófia) e houve um da Amareleja que ficou dormindo debaixo do chaparro e apareceu (Morgado). Como bons alentejanos chegaram todos atrasados, mas como povo unido que são encontraram-se sem querer todos á mesma hora numa rotunda de Reguengos, com 30 minutos de atraso (é a tolerância habitual para matar o bicho). Parecia uma reunião de agricultores carregando fardos de palha nos seus tractores, os compadres nativos até olhavam de lado para aquela manifestação que começara tão cedo (eram ainda 10.30h. da manhã). Lá tomaram a direcção do mar e aquando lá chegaram ficaram abismados a olhar para aquela imensidão, desconfiando se os seus fardos de palha não se iriam afundar em tanta água (havia a esperança que houvesse por lá umas pipas flutuantes com lastro de Reguengos, para ajudar na coisa).

Uns despiram-se (preciam que iam ao banho anual), outros vestiram a samarra (sempre ajudava a flutuar, caso a palha mete-se água), e lá partiram entoando cânticos alentejanos por aquelas águas adentro.

Havia um deles que tinha um fardo de palha novo, ia a banhos pela primeira vez, mas lá se ajeitou bem, pois este povo está habituado a passar por dificuldades e a dar a volta a tudo.Lá seguiram juntinhos, pois povo unido jamais será vencido, por aquelas águas deleitando-se com o campo que os rodeava. Aquando avistaram as primeiras árvores, lançaram os fardo de palha com uma velocidade, que até parecia que se iam deitar debaixo delas, só o fizeram porque havia água por baixo.

E queriam sair de lá, só quando pensaram que mais á frente podia haver uns chaparros sem água por baixo e talvez algumas daquelas pipas, é que de lá partiram. E lá continuaram unidos entoando a grande vila morena, fosse aparecer a GNR, pois como cantavam alentejano os guardas os multariam por andar a poluir a água com tanta palha, pois a terra é de quem a trabalha.
Homens do campo habituados a trabalhar duro, pouco habituados a estas coisas de tanta água (só mexem nela pra rega), tinham que parar para encher o bandulho pois isto de bater com cajados na água dá cá uma fome.

Lá comeram as suas buchas descansados debaixo de um chaparro, mas a porra das pipas não haviam meio de aparecer, e lá bebericaram uns sumos e água (havia lá muita). No fim dos cafés e dos bagaços, deitaram-se os quatro debaixo dos chaparros a dormir a sesta. Mas um deles acordou, quando no seu sono agitado rebolou monte abaixo (sonhava que tinha encontrado uma pipa e estava aflito para a pôr em cima da palha) e pisou bosta de vaca, desatou gritando e acordou os outros. Se havia bosta havia vacas, se havia vacas havia bois, e até havia ali uns fardos de palha vermelhos, já conseguiram ficar descansados na sesta e puseram-se a chapar naquelas águas a fora. Rumavam a norte de Monsaraz pelo braço á esquerda (tinha que ser pois são alentejanos), pararam a meio do percurso para trocarem de fardos de palha, isto de comer palha de diferentes zonas é mais saboroso e lá continuaram cantarolando por ali a fora.

Chegados ao fim do braço Esquerdo, cuscuvilharam todos os recantos e lá se puseram regressando, um pouco chateados, pois nada das prometidas pipas. Batiam com os cajados, olhavam uns para os outros e afinavam as melodias lentas dos cantares alentejanos (estes alentejanos são como as mulheres, zurzem muito), e muito perto do fim algo já cansados com tanta trabalheira, ainda tinham esperança que aparece-se um compadre daqueles latifundiários com um tractor grande, que pudesse carregar com eles e com os fardos de palha, mas como aquilo é um bocado pró deserto (tamos no Alentejo, recordou um deles), lá tiveram que bater os paus até ao fim. Aquando chegaram e depois de tanto zurzirem e suarem, lá tiveram que tomar o banho anual, pois se sabiam quando voltariam a ver tanta água.

Como bons alentejanos que são, carregaram os fardos de palha e rumaram para uma tasca perto, para beber uns bons canecos ( fossem os tractores ficarem sem gasóleo agrícola para a viagem). Na hora das despedidas venham de lá aqueles abraços e promessas de voltar a repetir, pois os compadres teimosos como são, não vão desistir de encontrar aquelas pipas de Reguengos. Lá regressaram aos alentejos profundos, recordando aquele oceano no Alentejo plantado.

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